sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Benicio del Toro estreará como diretor em filme sobre Havana

Del Toro, que encarnou o lendário guerrilheiro Ernesto Guevara no filme "Che", de Steven Soderbergh, "estabeleceu uma forte ligação com os cubanos em mais de 12 visitas" à ilha e estreará como diretor do filme, anunciou a agência cubana Prensa Latina.


Além de Del Toro, Medem, Cantet e Trapero, participam do filme, que começou a ser rodado em janeiro, o argentino-francês Gaspar Noé, o palestino Elia Suleiman e o cubano Juan Carlos Tabío, co-diretor do celebrado "Morango e Chocolate".

"Cada um vai fazer um curta de mais ou menos 15 minutos, que corresponda a um dia da semana em Havana. São curtas interessantes e cada um aborda uma faceta determinada da nossa realidade", declarou Tabío à estatal Radio Rebelde, ao ressaltar que o roteiro ainda não está "totalmente terminado".

Durante entrevista coletiva, no âmbito do 32º Festival de Cinema de Havana, Medem explicou que "desde o primeiro momento aceitou unir-se ao tributo por e para Havana com uma visão de fora e de dentro", enquanto Trapero opinou que a fita será "uma oportunidade maravilhosa para levar ao cinema o afeto especial que sente pela ilha".

O filme tem como roteirista principal o escritor cubano Leonardo Padura e a produção geral correrá a cargo do espanhol Alvaro Longoria, fundador da Morena Films, produtora do longa de Soderbergh.

Na 32ª edição do Festival Internacional do Novo Cinema Latino-americano, que termina no domingo, são apresentados 515 filmes, dos quais 120 disputam prêmios.

Fonte: AFP

Liberdade de expressão: uma armadilha para pegar quem?

Por Elaine Tavares


O velho Marx já ensinou há muitos anos sobre o que é a ideologia. É o encobrimento da verdade. Assim, tudo aquilo que esconde, vela, obscurece, tapa, encobre, engana, é ideologia. É dentro deste espectro que podemos colocar o debate que se faz hoje no Brasil, na Venezuela, no Equador e na Bolívia sobre o binômio “liberdade de expressão X censura”. Para discutir esse tema é preciso antes de mais nada observar de onde partem os gritos de “censura, censura”, porque na sociedade capitalista toda e qualquer questão precisa ser analisada sob o aspecto de classe. A tal da “democracia”, tão bendita por toda a gente, precisa ela mesma de um adjetivo, como bem já ensinou Lênin. “Democracia para quem? Para que classe?”.

Na Venezuela a questão da liberdade de expressão entrou com mais força no imaginário das gentes quando o governo decidiu cassar a outorga de uma emissora de televisão, a RCTV, por esta se negar terminantemente a cumprir a lei, discutida e votada democraticamente pela população e pela Assembléia Nacional. “Censura, cerceamento da liberdade de expressão” foram os conceitos usados pelos donos da emissora para “denunciar” a ação governamental. Os empresários eram entrevistados pela CNN e suas emissoras amigas, de toda América Latina, iam reproduzindo a fala dos poderosos donos da RCTV. Transformados em vítimas da censura, eles foram inclusive convidados para palestras e outros quetais aqui nas terras tupiniquins.

Lá na Venezuela os organismos de classe dos jornalistas, totalmente submetidos à razão empresarial, também gritavam “censura, censura” e faziam coro com as entidades de donos de empresas de comunicação internacionais sobre o “absurdo” de haver um governo que fazia cumprir a lei. Claro que pouquíssimos jornais e jornalistas conseguiram passar a informação correta sobre o caso, explicando a lei, e mostrando que os que se faziam de vítima, na verdade eram os que burlavam as regras e não respeitavam a vontade popular e política. Ou seja, os arautos da “democracia liberal” não queriam respeitar as instituições da sua democracia. O que significa que quando a democracia que eles desenham se volta contra eles, já não é mais democracia. Aí é ditadura e cerceamento da liberdade de expressão.

No Brasil, a questão da censura voltou à baila agora com o debate sobre os Conselhos de Comunicação. Mesma coisa. A “democracia liberal” consente que existam conselhos de saúde, de educação, de segurança, etc... Mas, de comunicação não pode. Por quê? Porque cerceia a liberdade de expressão. Cabe perguntar. De quem? Os grandes meios de comunicação comercial no Brasil praticam a censura, todos os dias, sistematicamente. Eles escondem os fatos relacionados a movimentos sociais, lutas populares, povos indígenas, enfim, as maiorias exploradas. Estas só aparecem nas páginas dos jornais ou na TV na seção de polícia ou quando são vítimas de alguma tragédia. No demais são esquecidas, escondidas, impedidas de dizerem a sua palavra criadora. E quando a sociedade organizada quer discutir sobre o que sai na TV, que é uma concessão pública, aí essa atitude “absurda” vira um grande risco de censura e de acabar com a liberdade de expressão. Bueno, ao povo que não consegue se informar pelos meios, porque estes censuram as visões diferentes das suas, basta observar quem está falando, quem é contra os conselhos. De que classe eles são. Do grupo dos dominantes, ou dos dominados?

Agora, na Bolívia, ocorre a mesma coisa com relação à recém aprovada lei anti-racista. Basta uma olhada rápida nos grandes jornais de La Paz e lá está a elite branca a gritar: “censura, censura”. A Sociedade Interamericana de Imprensa, que representa os empresários, fala em cerceamento da liberdade de expressão. Os grêmios de jornalistas, também alinhados com os patrões falam a mesma coisa, assim como as entidades que representam o poder branco, colonial e racista. Estes mesmos atores sociais que ao longo de 500 anos censuraram a voz e a realidade indígena e negra nos seus veículos de comunicação, agora vem falar de censura. E clamam contra suas próprias instituições. A lei anti-racista prevê que os meios de comunicação que incentivarem pensamentos e ações racistas poderão ser multados ou fechados. Onde está o “absurdo” aí? Qual é o cerceamento da liberdade de expressão se a própria idéia de liberdade, tão cara aos liberais, se remete à máxima: “a minha liberdade vai até onde começa a do outro”? Então, como podem achar que é cerceamento da liberdade de expressão usar do famoso “contrato social” que garante respeito às diferenças?

Ora, toda essa gritaria dos grandes empresários da comunicação e seus capachos nada mais é do que o profundo medo que todos têm da opinião pública esclarecida. Eles querem o direito de continuar a vomitar ideologia nos seus veículos, escondendo a voz das maiorias, obscurecendo a realidade, tapando a verdade. Eles querem ter o exclusivo direito de decidir quem aparece na televisão e qual o discurso é válido. Eles querem manter intacto seu poder escravista, racista e colonial que continua se expressando como se não tivessem passado 500 anos e a democracia avançado nas suas adjetivações. Hoje, na América Latina, já não há apenas a democracia liberal, há a democracia participativa, protagônica, o nacionalismo popular. As coisas estão mudando e as elites necrosadas se recusam a ver.

O racismo é construção de quem domina

Discursos como esses, das elites latino-americanas e seus capachos, podem muito bem ser explicados pela história. Os componentes de racismo, discriminação e medo da opinião pública esclarecida têm suas raízes na dominação de classe. Para pensar essa nossa América Latina um bom trabalho é o do escritor Eric Williams, nascido e criado na ilha caribenha de Trinidad Tobago, epicentro da escravidão desde a invasão destas terras orientais pelos europeus. No seu livro Capitalismo e Escravidão, ele mostra claramente que o processo de escravidão não esteve restrito apenas ao negro. Tão logo os europeus chegaram ao que chamaram de Índias Orientais, os primeiros braços que trataram de escravizar foram os dos índios.

Os europeus buscavam as Índias e encontraram uma terra nova. Não entendiam a língua, não queriam saber de colonização. Tudo o que buscavam era o ouro. Foi fácil então usar da legitimação filosófica do velho conceito grego que ensinava ser apenas “o igual”, “o mesmo”, aquele que devia ser respeitado. Se a gente originária não era igual à européia, logo, não tinha alma, era uma coisa, e podia ser usada como mão de obra escrava para encontrar as riquezas com as quais sonhavam. Simples assim. Essa foi a ideologia que comandou a invasão e seguiu se sustentando ao longo destes 500 anos. Por isso é tão difícil ao branco boliviano aceitar que os povos originários possam ter direitos. Daí essa perplexidade diante do fato de que, agora, por conta de uma lei, eles não poderão mais expressar sua ideologia racista, que nada mais fez e ainda faz, que sustentar um sistema de produção baseado na exploração daquele que não é igual.

Eric Williams vai contar ainda como a Inglaterra construiu sua riqueza a partir do tráfico de gente branca e negra, para as novas terras, a serem usadas como braço forte na produção do açúcar, do tabaco, do algodão e do café. Como o índio não se prestou ao jogo da escravidão, lutando, fugindo, morrendo por conta das doenças e até se matando, o sistema capitalista emergente precisava inventar uma saída para a exploração da vastidão que havia encontrado. A escravidão foi uma instituição econômica criada para produzir a riqueza da Inglaterra e, de quebra, dos demais países coloniais. Só ela seria capaz de dar conta da produção em grande escala, em grandes extensões de terra. Não estava em questão se o negro era inferior ou superior. Eram braços, e não eram iguais, logo, passíveis de dominação. Eles foram roubados da África para trabalhar a terra roubada dos originários de Abya Yala.

Também os brancos pobres dos países europeus vieram para as Américas como servos sob contrato, o que era, na prática, escravidão. Segundo Williams, de 1654 a 1685, mais de 10 mil pessoas nestas condições partiram somente da cidade de Bristol, na Inglaterra, para servir a algum senhor no Caribe. Conta ainda que na civilizada terra dos lordes também eram comuns os raptos de mulheres, crianças e jovens, depois vendidos como servos. Uma fonte segura de dinheiro. De qualquer forma, estas ações não davam conta do trabalho gigantesco que estava por ser feito no novo mundo, e é aí que entra a África. Para os negociantes de gente, a África era terra sem lei e lá haveria de ter milhões de braços para serem roubados sem que alguém se importasse. E assim foi. Milhões vieram para a América Latina e foram esses, juntamente com os índios e os brancos pobres, que ergueram o modo de produção capitalista, garantiram a acumulação do capital e produziram a riqueza dos que hoje são chamados de “países ricos”.

E justamente porque essa gente foi a responsável pela acumulação de riqueza de alguns que era preciso consolidar uma ideologia de discriminação, para que se mantivesse sob controle a dominação. Daí o discurso – sistematicamente repetido na escola, na família, nos meios de comunicação – de que o índio é preguiçoso, o negro é inferior e o pobre é incapaz. Assim, se isso começa a mudar, a elite opressora sabe que o seu mundo pode ruir.

Liberdade de expressão

É por conta da necessidade de manter forte a ideologia que garante a dominação que as elites latino-americanas tremem de medo quando a “liberdade de expressão” se volta contra elas. Esse conceito liberal só tem valor se for exercido pelos que mandam e aí voltamos àquilo que já escrevi lá em cima. Quando aqueles que os dominadores consideram “não-seres” - os pobres, os negros, os índios – começam a se unir e a construir outro conceito de direito, de modo de organizar a vida, de comunicação, então se pode ouvir os gritos de “censura, censura, censura” e a ladainha do risco de se extinguir a liberdade de expressão.

O que precisa ficar bem claro a todas as gentes é de que está em andamento na América Latina uma transformação. Por aqui, os povos originários, os movimentos populares organizados, estão constituindo outras formas de viver, para além dos velhos conceitos europeus que dominaram as mentes até então. Depois de 500 anos amordaçados pela “censura” dos dominadores, os oprimidos começam a conhecer sua própria história, descobrir seus heróis, destapar sua caminhada de valentia e resistência. Nomes como Tupac Amaru, Juana Azurduy, Zumbi dos Palmares, Guaicapuru, Bartolina Sisa, Tupac Catari, Sepé Tiaraju, Dandara, Artigas, Chica Pelega, assomam, ocupam seu espaço no imaginário popular e provocam a mudança necessária.

Conceitos como Sumak kawsay, dos Quíchua equatorianos, ou o Teko Porã, dos Guarani, traduzem um jeito de viver que é bem diferente do modo de produção capitalista baseado na exploração, na competição, no individualismo. O chamado “bem viver” pressupõe uma relação verdadeiramente harmônica e equilibrada com a natureza, está sustentado na cooperação e na proposta coletiva de organização da vida. Estes são conceitos poderosos e “perigosos”. Por isso, os meios de comunicação não podem ficar à mercê dos desejos populares. Essas idéias “perigosas” poderiam começar a aparecer num espaço onde elas estão terminantemente proibidas. É esse modo de pensar que tem sido sistematicamente censurado pelos meios de comunicação. Porque as elites sabem que destruída e ideologia da discriminação contra o diferente e esclarecida a opinião pública, o mundo que construíram pode começar a ruir. A verdadeira liberdade de expressão é coisa que precisa ficar bem escondida, por isso são tão altos os gritos que dizem que ela pode se acabar se as gentes começarem a “meter o bedelho” neste negócio que prospera há 500 anos.

Basta de bobagens

É neste contexto histórico, econômico e político que deveriam ser analisados os fatos que ocorrem hoje na Venezuela, no Equador, na Bolívia e na Argentina. O Brasil deveria, não copiar o que lá as gentes construíram na sua caminhada histórica, mas compreender e perceber que é possível estabelecer aqui também um processo de mudança. Neste mês de novembro o Ministério das Comunicações chamou um seminário para discutir uma possível lei de regulamentação da mídia brasileira. Não foi sem razão que os convidados eram de Portugal, Espanha e Estados Unidos. Exemplos de um mundo distante, envelhecido, necrosado, representantes de um capitalismo moribundo. As revolucionárias, criativas e inovadoras contribuições dos países vizinhos não foram mencionadas. A Venezuela tem uma das leis mais interessantes de regulamentação da rádio e TV, a Argentina deu um passo adiante com a contribuição do movimento popular, a Bolívia avança contra o racismo, o Equador inova na sua Constituição, e por aqui tudo é silêncio. Censura?

Os governantes insistem em buscar luz onde reina a obscuridade. E, ainda assim pode-se ouvir o grito dos empresários a dizer: censura, censura, censura. O atraso brasileiro é tão grande que mesmo as liberais regulamentações européias são avançadas demais. Enquanto isso Abya Yala caminha, rasgando os véus...

Elaine Tavares é jornalista.
 
Fonte: Revista Caros Amigos

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Lula pede manifestação contra prisão de dono do WikiLeaks e é aplaudido de pé

Saúde Mental e desinformação

PorMarcos Roberto Vieira Garcia


Os Centros de Atenção Psicossociais (CAPSs) foram criados no Brasil a partir de 1987, tendo um papel estratégico na substituição do modelo manicomial na Sáude Mental. Como locais abertos, não mais caracterizados como depósitos de seres humanos, os CAPSs são livres para a circulação dos usuários e seus familiares, de preferência localizados próximos às residências de seu usuários, ou seja, ser um serviço territorializado, ligado à comunidade, oferecendo um serviço integral e multiprofissional.

A Portaria 336/GM, de 19 de fevereiro de 2002, assinada pelo então ministro da Saúde, José Serra, e reafirmada no governo subseqüente, estabelece as regras de funcionamento dos CAPS. Em seu artigo 3º, determina que "os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) só poderão funcionar em área física específica e independente de qualquer estrutura hospitalar". O motivo de tal determinação é claro: o de evitar que a lógica de funcionamento manicomial se reproduza na forma de funcionamento dos CAPSs nascentes, permitindo que eles possam cumprir a função para a qual foram criados.

No caso específico da cidade de Sorocaba, poderíamos estar satisfeitos com as informações repassadas pela Prefeitura Municipal, de que teríamos 10 CAPSs na cidade, o que significaria o estabelecimento de uma rede substitutiva aos manicômios na cidade. Estes dados, no entanto, causam estranheza: se tantos CAPSs foram abertos, por que os leitos em manicômios não foram reduzidos de forma substancial? A resposta a esta pergunta passa por uma análise da rede dos supostos CAPSs de Sorocaba. Vamos a ela.

O primeiro grupo, de três supostos CAPS, é constituído por unidades diretamente ligadas, física e administrativamente, a hospitais psiquiátricos da cidade. Conforme informação veiculada em reportagem de um jornal local - "Conselho quer tratamento em nível ambulatorial" - em maio de 2010, são eles os denominados CAPS Infantil Vera Cruz, o CAPS II Vera Cruz e o CAPS Teixeira Lima. Estas unidades estão em claro desacordo com a legislação citada anteriormente, de independência dos CAPSs em relação a instituições hospitalares e, portanto, não podem ser consideradas Centros de Atenção Psicossocial, como de fato não o são pelo Ministério da Saúde.

Situação semelhante à anterior é a do suposto CAPS de álcool e drogas adulto, administrado pela Associação Protetora dos Insanos. Tal Associação é mantenedora do Hospital Psiquiátrico Jardim das Acácias desde a década de 50, quando o mesmo se denominava ainda Instituto de Higiene Mental "Dr. Luiz Vergueiro", e mantém com o mesmo uma relação de total interdependência, o que não lhe possibilita ser mantenedora de um CAPS pela portaria supracitada, justificando-se o não-reconhecimento por parte do Ministério da Saúde a este suposto CAPS.

O terceiro caso refere-se aos supostos CAPSs que, na verdade. configuram-se como ambulatórios especializados em Saúde Mental e são reconhecidos enquanto tal pelo Ministério da Saúde. É o caso de dos denominados CAPS II Jardim das Acácias (da avenida Dr. Armando Salles de Oliveira, no bairro do Trujillo) e um dos do CAPSs Infantil gerido pela Associação Pró-Reintegração Social da Criança (da rua Luíza de Carvalho).

É importante ressaltar que as exigências para o reconhecimento de uma unidade como ambulatório são diferentes das que se referem aos CAPS, o que significa que tais unidades, embora funcionem como ambulatórios, não podem legalmente ser consideradas como Centros de Atenção Psicossocial.

Passemos aos quatro supostos CAPSs restantes, estes sim reconhecidos pelo Ministério da Saúde enquanto tal. Todos eles são cadastrados no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), como sendo de administração direta pela Prefeitura. Três deles, no entanto, são repassados de outras instituições. Uma delas, a Associação Pró-Reintegração da Criança, não será aqui questionada, uma vez que não se configura como uma instituição com histórico manicomial, sendo, portanto, legítimo o reconhecimento pelo Poder Público de uma de suas unidades como CAPS infantil, conforme a lei estadual 4.053, de 20 de agosto de 1957.

Obtivemos informações acerca do cadastramento de dois destes CAPS no plano estadual, ambos aprovados sob gestão plena do Sistema Municipal: CAPS-AD (álcool e drogas) Jardim das Acácias, na Deliberação CIB-155, de 12 de dezembro de 2006; e o Centro de Atenção Psicossocial Infantil de Sorocaba/CAPS, na Deliberação CIB-124/2006, localizada na avenida Itavuvu. O mesmo não se pode afirmar de outros dois supostos CAPS, o CAPS de álcool e drogas jovem e o CAPS II (da praça Nova York), ambos com gestão repassada à Associação Protetora dos Insanos.

O repasse da gestão de um CAPS cadastrado junto ao Ministério da Saúde como administrado diretamente pela Prefeitura de Sorocaba a uma instituição historicamente ligada, instrínseca e historicamente, a um manicômio da cidade revela, se não uma ilegalidade, certamente uma imoralidade, uma vez que a portaria que define as regras de funcionamento dos CAPS é negligenciada neste processo. O último suposto CAPS, o Ambulatório de Saúde Mental de Sorocaba, pode ser considerado legitimamente como tal, ainda que a Prefeitura prefira chamá-lo como Ambulatório em seu nome oficial.

Concluindo: uma análise mais acurada demonstra que a Prefeitura local divulga informações enganosas à população. Dos supostos dez CAPSs divulgados, apenas quatro são reconhecidos pelo Ministério da Saúde e dois

deles graças a um subterfúgio que está em desacordo com a portaria que regulamenta o funcionamento dos CAPSs. Por este motivo, apenas duas unidades podem ser consideradas legitimamente como Centros de Atenção Psicossocial em Sorocaba. As restantes podem, quando muito, ser nomeadas como ambulatórios. Chamá-las de CAPSs corresponde a uma afirmação enganadora e desrespeitosa em relação ao histórico de lutas pela reforma psiquiátrica no Brasil e à população sorocabana, que tem direito ao acesso à informação correta.


Marcos Roberto Vieira Garcia é doutor em Psicologia Social pela USP (Universidade de Säo Paulo), professor adjunto da UFSCar-Sorocaba, coordenador do Núcleo de Sorocaba da Associação Brasileira de Psicologia Social e membro do conselho gestor da subsede local do Conselho Regional de Psicologia

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Cerca de 33 mil adolescentes serão mortos até 2013

Dois adolescentes a cada grupo de mil jovens de 12 a 18 anos foram assassinados, em 2007, nos 266 municípios com mais de 100 mil habitantes, aponta o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA). Caso essa taxa de mortalidade juvenil (2,67) seja mantida, a projeção é de que 33 mil adolescentes sejam mortos até 2013.


Os dados foram calculados pelo Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e divulgados nesta quarta-feira, em Brasília, pela Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República, pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pela organização não governamental Observatório de Favelas.

A morte violenta é responsável por quase metade das mortes de pessoas de 12 a 18 anos no Brasil (45,5% dos casos). O índice é quase o dobro das mortes por doença (26,5%) e mais do que o dobro das mortes por acidente (23,2%).

Segundo o estudo feito em 11 regiões metropolitanas, os homicídios afetam principalmente os rapazes (12 homens para cada jovem assassinada); os negros (quase quatro pretos ou pardos para cada branco ou amarelo); e moradores da periferia. A arma de fogo (revólver, pistola, espingarda, fuzil, metralhadora) é o principal meio de assassinato dos jovens.

Um ranking dos municípios mais violentos com adolescentes é liderado por Foz do Iguaçu (PR), com 11,7 mortes a cada mil jovens; seguido por Cariacica (ES), com 8,2 assassinatos a cada mil pessoas; e Olinda (PE) com oito homicídios a cada mil adolescentes.

Os Estados do Espírito Santo, de Pernambuco e Minas Gerais têm, cada um, quatro municípios na lista das 20 cidades com mais de 200 mil habitantes e com maiores IHA. O Estado do Rio de Janeiro tem três municípios na lista, Alagoas tem duas cidades, Bahia, Maranhão e Paraná têm, cada um, uma cidade na lista. Segundo a pesquisa, a Região Nordeste é a que registra maiores riscos de homicídio.
 
fonte: Pragmatismo Político

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Desmatamento na Amazônia atinge menor taxa em 22 anos

A taxa de desmatamento na Amazônia Legal caiu 14% entre agosto de 2009 e julho de 2010, segundo revelação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) nesta quarta-feira. É o menor índice verificado desde 1988, quando o INPE iniciousua série de levantamentos anuais. Projetado a partir de 93 imagens de satélite, o desflorestamento foi estimado em 6.451 quilômetros quadrados.


Na medição de 2009, este número foi de 7,6 mil km². Do total desmatado, o Pará responde por mais da metade: 3.710 km². A seguir, muito distante, aparece o Mato Grosso com 828 km². acompanhado pelo Maranhão (679 km²) , Amazonas (474 km²), Rondônia (427 km²), Acre (273 km²) e Tocantins (60 km²). Amapá e Roraima não foram avaliados na estimativa.

Recuo nos líderes do ranking - Realizada através do Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal (Prodes), a pesquisa computa como desmatamento as áreas maiores que 6,25 hectares onde ocorreu remoção completa da cobertura florestal (corte raso).

Os dados ficaram acima do esperado pelo governo, que trabalhava com uma taxa em torno de 5 mil km². De qualquer forma, o INPE registrou redução significativa do desmatamento nos três estados que tradicionalmente lideram o ranking de derrubadas: Mato Grosso, Pará e Rondônia.

Mais próximo da meta – Agora, com a taxa de anual de 6 mil km², o Brasil se aproxima da meta de reduzir o desmatamento da Amazônia em 80% até 2020, segundo o Plano Nacional de Mudanças Climáticas. Assumido em compromisso internacional, o cronograma tem o objetivo de, ao final da próxima década, alcançar a uma taxa anual de 3,5 mil km² de desmatamento.

O governo já cogita antecipar o cumprimento da meta para 2016.

Para o diretor do INPE, Gilberto Câmara, a diminuição na derrubada de florestas é conseqüência de várias ações, o que engloba a fiscalização do Ibama e da Polícia Federal, ambos informados via monitoramento por satélite, agregado a uma maior responsabilidade empresarial que estaria reduzindo a compra de produtos – como carne e soja – oriundos de áreas desmatadas. Os novos dados do INPE devem ser apresentados pela ministra Izabella Teixeira (foto), do Meio Ambiente, na conferência sobre mudanças climáticas (Cop-16) em realização no México.

Fonte: Brasília Confidencial

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

PROGRESSÃO CONTINUADA - Mãe pede que a filha seja reprovada

Ao classificar o sistema como “criminoso”, o deputado estadual Hamilton Pereira denuncia que existe falta de vontade política para se investir na educação


“Não quero que minha filha passe de ano sem que esteja devidamente preparada”. A colocação é da mãe de uma estudante da rede estadual de ensino, que não concorda com o sistema de Progressão Continuada, pelo qual os alunos são aprovados automaticamente. Mas, diante da dificuldade em conseguir a reprovação da filha, a promotora de vendas L.D.A. decidiu chamar via imprensa a atenção para a questão, que inclusive foi programa de governo de vários candidatos ao governo do Estado. Para os professores, o atual sistema não beneficia os alunos e nem a eles próprios.


De acordo com a mãe, que não é identificada a fim de evitar algum tipo de constrangimento da filha de 11 anos, matriculada na 5ª série do Ensino Fundamental na EE “Professor Júlio Bierrembach de Lima”, no Jardim Santa Rosália, seria preferível que a garota repetisse agora, evitando assim que no futuro se depare com total falta de preparo, sem condições até mesmo de cursar nível superior.

A mãe explica que os problemas de aprendizado da filha começaram quando ela ainda estava na 3ª série, e que já a levou a fazer terapia, sem no entanto encontrar alguma explicação para sua dificuldade, a não ser sua falta de atenção. Para a menina, que também gostaria de ser reprovada, o problema estaria nas salas de aula muito lotadas.

De acordo com a promotora de vendas, que não pode manter a filha numa escola particular e nem mesmo pagar reforço para várias matérias, o ideal seria que o aluno não apenas frequentasse a escola, mas que aprendesse. Ela também acrescenta que até a menina gostaria de ser reprovada: “Ela fica triste por não conseguir acompanhar os colegas de classe, e por isso também gostaria de fazer novamente a 5ª série”.

Por isso, na tentativa de “salvar” a filha de ter um futuro profissional prejudicado, a promotora de vendas entregou para a diretora Maria Helena uma carta, explicando os motivos que a levaram a tomar essa atitude.

Mas embora a diretora tenha compreendido sua preocupação e se comprometido em ver o que poderia ser feito, a promotora de vendas percebeu que dificilmente teria a solicitação atendida, resolvendo então trazer à tona o problema por meio da imprensa. “Não faço isso só pela minha filha, imagino que existam outras crianças na mesma situação, e outros pais igualmente preocupados com o aproveitamento escolar dos filhos”. Entretanto, a promotora de vendas destaca que o problema não é a escola Bierrembach, onde inclusive estuda outra filha sua, mas sim o atual sistema de aprovação.

Sem reprovar

A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Educação do Estado de São Paulo informa que diretores e professores avaliam pedagogicamente o desempenho dos alunos, julgando se são capazes de prosseguir para a série seguinte.

Entretanto, sem responder sobre o encaminhamento dado pela diretora Maria Helena sobre o pedido da promotora de vendas para a reprovação da filha, a assessoria explicou que a progressão continuada no Ensino Fundamental é organizada em Ciclos de aprendizagem: o primeiro ciclo (Ciclo I) vai do 1º ao 5º ano e o segundo ciclo (Ciclo II) se estende do 6º ao 9º ano. Pode haver repetência entre os dois ciclos e no final do ciclo II. Portanto, 4ª ou 8ª série, o aluno pode fazer a recuperação de ciclo, permanecendo mais um ano nesta série.

Sistema distorcido

Para o professor de História, Alexandre Tardelli, coordenador da Regional da Associação dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp), “o sistema, idealizado pelo educador Paulo Freire foi implantado sem que houvesse um debate, uma adequação, e na prática o que existe é promoção automática”.

Em total concordância com a mãe da estudante, Tardelli afirma que a promoção automática se dá por questões políticas, tendo como resultado o nivelamento por baixo. Segundo ele, “há muita pressão dos diretores sobre os professores para que os alunos sejam aprovados. Mas tem muitos diretores que não concordam, mas que são também pressionados pelas Diretorias Regionais”.

Com visão negativa do futuro profissional dos estudantes avaliados pela progressão continuada, Alexandre Tardelli admite que “se fosse para avaliar mesmo, mais da metade dos alunos não passaria. É que eu me atento ás questões de História, e não aos erros gritantes de português”.

Mas diante desse quadro, que como consequência também gerou menos reconhecimento profissional do professor, Tardelli defende que “o sistema precisaria ser aperfeiçoado, e implantar política pública e não política de governo”.

Quem também pensa como ele é o deputado estadual reeleito Hamilton Pereira (PT), que lembrou inclusive que a proposta de Aluísio Mercadante, candidado ao governo do Estado, era resgatar o projeto de autoria do Paulo Freire, “cuja ideia visava não penalisar o aluno, mas oferecer uma avaliação continuada com reforço escolar dentro e fora da sala de aula. Mas se tornou aprovação automática para virar estatística quantitativa e não qualitativa. É uma fábrica de analfabetos”, enfatiza.

Hamilton Pereira, que também compreende a atitude da promotora de vendas, aponta vários fatores que contribuem com o fracasso da progressão continuada, como classes superlotadas, e o fato de 45% dos professores não serem efetivos. Isso, segundo Hamilton, pode desencadear duas reações negativas: aluno e professor não criam referências, e os professores muitas vezes não têm nem tempo para avaliar o desempenho do estudante.

Ao classificar o sistema como “criminoso”, o deputado estadual denuncia que existe falta de vontade política para se investir na educação, sendo que com previsão orçamentária de R$ 142 bilhões para o ano de 2011, não há como tentar justificar falta de recursos, que para o setor serão de no mínimo 25% de toda fatia.

Jornal Cruzeiro do Sul

Fonte: Site do Deputado Estadual (SP) Hamilton Pereira (PT)

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A indústria dos planos de saúde contra Michael Moore

Depois da realização do documentário "Sicko", uma denúncia contra o sistema privado de saúde nos Estados Unidos, executivos de empresas de planos de saúde decidiram desencadear um plano contra o trabalho de Michael Moore. Um estudo recente da Faculdade de Medicina de Harvard indicou que quase 45 mil estadunidenses morrem anualmente (um a cada doze minutos) principalmente porque não têm seguro de saúde. Mas para o grupo de pressão das empresas, a única tragédia seria a possibilidade de uma verdadeira reforma do sistema de saúde. O artigo é de Amy Goodman.


Amy Goodman – Democracy Now

Michael Moore, ganhador do Oscar como melhor documentarista, faz excelentes filmes que, em geral, não são consideradas obras de suspense que gerem a sensação de estar “à beira do abismo”. Tudo isso poderia mudar a partir de uma denúncia feita por um informante do noticiário de Democracy Now, segundo a qual executivos de empresas de planos de saúde pensaram que talvez fosse necessário por em marcha um plano para “atirar Moore pelo precipício”.

O informante era Wendel Potter, ex portavoz da gigante dos planos de saúde Cigna. Potter mencionou uma reunião de estratégia industrial na qual se tratou do tema de como responder ao documentário “Sicko”, de Michael Moore, produzido em 2007, filme que critica a indústria de seguros de saúde dos Estados Unidos. Potter me disse que não estava seguro da gravidade da ameaça, mas acrescentou em tom inquietante: “Ainda que não tenham pensado em fazer isso literalmente, para ser honesto, quando comecei a fazer o que estou fazendo, temi por minha própria saúde e bem estar; talvez tenha sido paranoia, mas essas empresas jogam para ganhar”.

Moore ganhou um Oscar em 2002 com seu filme sobre a violência armada intitulado “Bowling for Columbine”. Logo depois fez “Fahrenheit 9/11”, um filme sobre a presidência de George W. Bush que se transformou no documentário de maior arrecadação na história dos Estados Unidos. Quando Moore disse a um jornalista que seu próximo trabalho seria sobre o sistema de saúde estadunidense, a indústria de planos de saúde tomou nota.

A associação comercial Planos de Seguro de Saúde dos Estados Unidos (AHIP, na sigla em inglês), principal grupo de pressão das empresas do setor, teve um enviado secreto na estreia mundial de “Sicko” no Festival de Cannes, na França. O agente saiu rapidamente da estreia e foi participar de uma teleconferência com executivos da indústria, entre eles Potter.

“Tínhamos muito medo”, disse Potter, “e nos demos conta de que teríamos que desenvolver uma campanha mais sofisticada e cara para conseguir rechaçar a ideia da cobertura de saúde universal. Temíamos que isso realmente despertasse a opinião pública. Nossas pesquisas nos diziam que a maioria das pessoas estava a favor de uma intervenção maior do governo no sistema de saúde”.

A AHIP contratou uma equipe de relações públicas, APCO Worldwide, fundada pelo poderoso escritório de advogados Arnold & Poter, para coordenar a resposta. A APCO formou o falso movimento de base de consumidores “Health Care America” para contrapor a prevista popularidade de “Sicko”, o filme de Moore, e para gerar medo em torno do chamado “sistema de saúde dirigido pelo governo”.

Em seu recente livro “Deadly Spin: An Insurance Company Insider Speaks Out on How Corporate PR is Killing Health Care and Deceiving Americans” (Giro mortal: um informante explica como as relações públicas das empresas de seguros estão acabando com o sistema se saúde e enganando os estadunidenses) Potter escreve que se encontrou “com um filme muito comovedor e eficaz na hora de condenar as práticas das empresas privadas de seguros de saúde. Várias vezes tive que fazer um esforço para conter as lágrimas. Moore conseguiu entender bem qual é o problema”.

A indústria de seguros anunciou que sua campanha contra “Sicko” havia sido um rotundo sucesso. Potter escreveu: “AHIP e APCO Worldwide conseguiram introduzir seus argumentos na maioria dos artigos sobre o documentário quando nenhum jornalista havia investigado o suficiente para descobrir que as empresas tinham fornecido a maior quantidade de dinheiro para a criação da Health Care America. De fato, todos, desde a cadeia de notícias CNN até o jornal USA Today, referiram-se a Health Care America como se fosse um grupo legítimo.

O jornal New York Times publicou um artigo, uma espécie de resenha de “Sicko”, na qual citava o porta voz da Health Care America dizendo que isso representava um passo na direção do socialismo. Nem esse jornalista, nem nenhum outro que tenha visto, tentaram tornar público que, de fato, este movimento estava financiado em grande medida pelas empresas de seguro da saúde.

Moore disse que Potter era o “Daniel Ellsberg dos Estados Unidos corporativo”, uma referência ao famoso informante do Pentágono cujas revelações ajudaram a por fim à guerra do Vietnã. A corajosa postura de Potter gerou um impacto no debate, mas a indústria dos planos de saúde, os hospitais e a Associação Médica Estadunidense continua debilitando os elementos do plano que ameaça os seus lucros.

Um estudo recente da Faculdade de Medicina de Harvard indicou que quase 45 mil estadunidenses morrem anualmente (um a cada doze minutos) principalmente porque não têm seguro de saúde. Mas para o grupo de pressão das empresas, a única tragédia seria a possibilidade de uma verdadeira reforma do sistema de saúde. Em 2009, as maiores empresas do setor destinaram mais de 86 milhões de dólares à Câmara de Comércio dos Estados Unidos para que esta se opusesse à reforma do sistema de saúde. Este ano, as cinco maiores seguradoras do país aportaram uma soma de dinheiro três vezes maior tanto para candidatos republicanos como para democratas com a intenção de fazer retroceder ainda mais a reforma da saúde. O representante democrata por Nova York, defensor do sistema de saúde público, declarou no Congresso que “o Partido Republicano é uma subsidiária que pertence por completo à indústria de seguros”.

“Provavelmente estarão a favor da retórica das empresas privadas quando afirmam que necessitamos ter mais ‘soluções baseadas no mercado’ (como eles dizem) e menos regulações, que, sem dúvida, são o tipo de coisa que os republicanos vão tratar de conseguir porque regulação é o que essas empresas não querem”, disse Potter.

A indústria de seguros da saúde não está desperdiçando seu dinheiro. Moore disse: “Neste informe estratégico compilado pelas empresas acerca do dano que “Sicko” poderia ocasionar, há uma linha que basicamente diz que no pior dos casos o filme poderia desencadear um levante populista contra as companhias. Essas empresas, em 2006 e 2007, já sabiam que os estadunidenses estavam fartos das empresas de seguros com fins lucrativos e que um dia o povo poderia se levantar e dizer ‘isto terminou’. Este é um sistema enfermo: permitimos que as empresas lucrem a nossa custa quando ficamos doentes!”

Isso é estar doente de verdade.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

Fonte: Carta Maior

Pequeno Grande Rio

O Rio de Janeiro, apesar de tudo, continua lindo, hospitaleiro, alegre e combativo. A cidade possui alguns dos mais belos cartões postais do mundo. Seu povo, aberto não apenas aos brasileiros de outros estados e cidades, mas também aos estrangeiros dos mais diversos cantos do mundo, mantém sua natureza jovial e culturalmente democrática. Embora seus ritmos musicais apresentem traços nostálgicos, eles são capazes de contagiar de alegria até os mais sisudos. E sua história está cheia de lutas, seja contra o arbítrio dos mandantes, seja por melhores condições de vida.


Isso tudo, apesar do que foi feito nos últimos cinqüenta anos, desde que o Rio deixou de ser a capital da República, para apequenarem a cidade, liquidarem sua beleza e tornarem seu povo mal-humorado, triste e conformado. A ditadura militar, em especial, fez tudo a seu alcance para quebrar a espinha dorsal popular e a natureza democrática dos cariocas. Acumularam-se desmandos e situações que a democratização pós-ditadura militar ainda não foi capaz de eliminar.

Foram dezenas de anos sem crescimento econômico e sem geração de empregos. Foram mais de vinte anos de perseguições políticas e culturais. Foi outro tanto de desprezo e de abandono, praticados por diferentes e continuados governos, em relação às camadas pobres da população, em particular às que vivem em favelas. Tudo isso criou as condições para transformar milhares de jovens (e também crianças) em "soldados" do tráfico de drogas, dos assaltos e roubos, organizados ou desorganizados, do assassinato por encomenda, e de uma série de outras atividades anti-sociais.

No vácuo da ausência do Estado e de políticas e serviços públicos que possibilitassem o mínimo de dignidade para os que viviam em áreas de favelas, estas se transformaram em territórios de poder e governo de bandos criminosos armados e em entrepostos de venda de narcóticos para as classes médias abastadas. Situação agravada, ainda por cima, com a conivência de policiais e outras autoridades corruptas, com a formação das "polícias mineiras" ou milícias, compostas de policiais, e com a ausência efetiva de oportunidades de trabalho e de perspectivas de futuro.

As tentativas de organização comunitária para reagir a essa situação foram constantemente desorganizadas e eliminadas, seja pelos bandos criminosos, seja pela polícia. A população moradora nas favelas conviveu sempre com o preconceito de grande parte da população não-favelada, para a qual todo favelado era um bandido em potencial, e com o duplo perigo de ser atingida e massacrada. Foram inúmeros os massacres praticados tanto por bandidos quanto por policiais, de forma independente ou em conjunto.

A política de ocupação dos territórios das favelas, através das UPP (Unidades de Polícia Pacificadora), e da introdução de serviços públicos, tem mostrado que a maioria absoluta dos favelados é formada por trabalhadores, embora grande parte ainda continue desempregada. Além disso, a presença de órgãos do Estado, mesmo mínima, mas com uma atitude diferente da polícia tradicional, criou um ambiente favorável para a vida e a organização comunitária.

Se a economia continuar crescendo e aumentando a oferta de empregos, a atividade do Estado nas favelas contribuir para a formação educacional e profissional de jovens e adultos, e ambos possibilitarem a organização comunitária autônoma, a política de ocupação territorial pode limpar o cenário das contradições sociais, encobertas até então pela presença escancarada do tráfico, e ajudar a superar décadas de descaso e de abandono.

Por outro lado, a política de ocupação dos territórios precisa estar associada a uma política de apelo à rendição, entrega das armas pelos "soldados" dos bandos armados e ressocialização efetiva dos jovens ganhos pelo tráfico em virtude da ausência de esperança de vida. O que demanda uma reforma profunda do sistema prisional brasileiro.

Contra a "guerra regular de posições", praticada pelo governo, sem ofertas de rendição e tratamento diferenciado de ressocialização, os "soldados" vão seguir à risca a orientação de seus chefes. Vão travar uma "guerra de guerrilhas", de caráter terrorista, contra a população civil e contra a polícia, e tendem a lutar até a morte quando não tiverem mais qualquer território onde se recolherem.

Talvez tenha chegado a hora de colocar a política no comando das ações militares, de modo a evitar um banho de sangue de grandes proporções.

Não se pode esquecer que a crise atual foi gerada numa fase ainda preliminar da criação das UPP. A maior parte das favelas do Rio ainda não conta com a presença das UPP. Desse modo, sem uma política de atração dos "soldados", com oferta clara de uma nova perspectiva de vida, teremos a repetição de novas crises, à medida que a ocupação dos territórios avançar.

A oferta não pode ser apenas prisão ou morte, porque nas condições prisionais brasileiras ambas são quase a mesma coisa. Precisa ser prisão com condições diferentes das atuais, educação, formação profissional e ressocialização. Se isto não for tentado, estaremos apenas trocando os sofás de lugar e será difícil o Rio sair da pequenez em que foi jogado há mais de meio de século, e voltar a ser grande, que é o que merece.

Wladimir Pomar

Fonte: Pragmatismo Político

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A perversão mediática: impedir ou bloquear a consciência social

Por Manuel Gusmão, no ODiario.info


A situação contemporânea dos media decorre no fundamental da propriedade dos grandes meios de comunicação social se encontrar concentrada nas mãos de uma fração das classes que dispõem do poder econômico e financeiro e, por conseguinte, do poder político.

Nas últimas duas décadas do século passado, acelerou-se um processo complexo que veio a traduzir-se numa brutal alteração da correlação das forças de classe a nível europeu e mundial, marcada pelas derrotas históricas do campo em que se iniciaram as primeiras tentativas de construção do socialismo, e por uma vitória do neoliberalismo no terreno das disputas ideológicas internas ao campo da burguesia internacional.

Esta situação determina que o exercício do poder na produção da comunicação utiliza não apenas meios técnicos em matéria de informação, entretenimento e conteúdos, mas também meios (repressivos) próprios da cadeia de comando de qualquer empresa capitalista.

Os objetivos próprios e específicos da gestão das empresas de comunicação social são conformes aos objetivos gerais da dominação das classes dominantes: a extorsão do lucro e a montagem de uma teia ou rede, ou de uma gigantesca tela destinado a influenciar ou a pressionar a reprodução do modo de viver social dominante.

Assim, visando a imposição de uma crescente fragilização dos seus trabalhadores, que os torne mais facilmente controláveis e obedientes perante a extorsão, promove-se uma crescente precarização das suas condições de trabalho.

Através dessa precariedade instalada e das formas de pagamento a recibo verde e à tarefa, da acumulação imposta de estágios não remuneradas, etc., a gestão dos media dominantes visa a maximização dos seus lucros e indissociavelmente, uma crescente compressão da autonomia relativa do trabalho intelectual (dos jornalistas e de outros profissionais intelectuais. A essa compressão pode acrescentar-se uma acentuada diferenciação social no interior desses grupos profissionais.

Uma realidade em rápida transformação

A situação e sobretudo o poder e a influência dos media que, como é fácil de compreender, são o poder e a influência política e ideológica dos seus proprietários é uma situação que ganha novas formas e realidade numa transformação rápida, que se acelera nas duas últimas décadas do séc. 20.

1. O impacto das inovações tecnológicas e a sua apropriação e gestão pelos proprietários dos media.

2. Os grupos econômicos e financeiros, a concentração da propriedade dos media e as condições de trabalho dos jornalistas. Em Portugal como o detalhou ontem Fernando Correia existem 5 grupos que dividem entre si a propriedade da imensa maioria dos media em Portugal.Como o tem também observado Fernando Correia é através destes grupos que o capital espanhol entra para o seu comando.

3. A apropriação pelo grande capital do desenvolvimento tecnológico e a concentração da propriedade dos media tem conduzido à criação de novos espaços informativos, a uma mercadorização crescente dos media e do seu produto: a informação, o “conhecimento”, a opinião, o entretenimento e os conteúdos.

4. Esta situação altamente complexa e contraditória leva à pluralização das expectativas dos diversos sujeitos sociais, mergulhados na noite urbana e ao esgotamento da resposta dos Media a essas expectativas.

Fernando Correia tem, entre nós, insistido nisso. Aproxima-se da realidade contemporânea dos media, por exemplo através da observação dessas expectativas: Para os jornalistas os media são um espaço de informação”, para os patrões são um produto; para os publicitários e anunciantes são um suporte de anúncios; para os dirigentes políticos e cada vez mais também para os desportivos, os media são um instrumento de luta pelo poder e de exercício do poder; para os cidadãos, os media tendem a constituir um espaço de participação. Para os trabalhadores, os sindicatos grupos minoritários (e outros) os media revelam-se um privilegiado espaço de reivindicação; para determinados sectores da intelectualidade, os media constituem uma instância de visibilidade e, por essa via, de legitimação e de credibilização (cf. Bourdieu). Fernando Correia adiantava que , nomeadamente num país como o nosso, os media são o principal ou mesmo o único instrumento de conhecimento; tudo o que sabem tendem a sabê-lo pela televisão.

Fabricar o consenso, impôr a obediência

A capacidade humana de linguagem é o fundamento e a condição de possibilidade da comunicação. Falar uma língua, produzir um discurso, comunicar é tendencialmente uma atividade dialogal e dialógica, eminentemente participativa e interaccional. Isso pode exprimir-se dizendo que uma frase é sempre dita pelo menos por duas pessoas: por aquele que a produz antecipando sua interprtação por um receptor e este que entende e responde a essa frase. O sentido dessa frase é sempre o resultado de uma negociação, o fruto de uma cooperação.

O Efeito do rio de águas caudalosas.

Nos media dominantes, tendencialmente, trata-se de produzir um discurso veloz, poderosamente redundante e que condiciona brutalmente as hipóteses de resposta. Só tolera a interação pobremente mimética, que repete o que já foi dito e fixa as regras de estilo e de modelação da notícia que só são aceites se inalteradas e inalteráveis. É um discurso que manifesta constantemente ligações não explícitas nem tematizadas, que jogam com preconceitos, valores e representações ideológicas profundamente depositados em estratos infraconscientes da consciência social.

Surgindo como transversal aos programas de informação, de opinião e entretenimento, esse discurso verdadeiramente totalitário torna impossível a referência a um fato histórico designado como “invasão do Vietnã do Sul” ou como a “agressão americana ao Vietnã do Sul”.

O Efeito de mosaico: a perplexidade induzida.

O alinhamento das notícias no telejornal pode ser manipulado, quer aproximando notícias em que se pretende ver uma relação, que não sendo explícita convoca precisamente estereótipos e preconceitos conservadores, quer afastando notícias que essas sim podem conter uma ligação que não se quer tornar patente. Aqui se inclui um procedimento muito frequente que consiste em dar-se uma notícia de tal forma que ela é incompreensível.

Ocultar o que se passa: mentir.

Exemplo: noticiar uma greve sem se dizer o que é que motiva os trabalhadores, o que é que eles reivindicam. Há casos deste tipo de manipulação grosseira, em que a notícia esconde ou mente sobre o motivo ou as razões precisas da luta. Recentemente as manifestações em França eram sistematicamente acompanhadas pela “informação” de que os manifestantes lutavam contra a passagem da idade da reforma dos 60 para os 62 anos. Entretanto nas imagens de um canal de televisão apareceu um trabalhador com uma bandeira onde se percebiam os números 60 e 67. Mas não só não foi apresentada, com base no cartaz, as verdadeiras razões da luta , como se persistiu na imprecisão mentirosa da notícia. Esta mentira apoia-se e explora a dificuldade de muitas pessoas em lerem com proficiência uma imagem que aliás passa velozmente.

Omitir e silenciar

Entretanto, para além destes casos de manipulação simples da notícia que ou é incompleta ou deformada, há uma outra estratégia provavelmente mais grave e perigosa, que pode produzir lacerações mais extensas e profundas na consciência social e política daqueles que se encontram expostos aos media. Esta estratégia procede pela ocultação e pelo silêncio feito sobre um determinado acontecimento, uma declaração, uma proposta ou orientação alternativa para resolver um determinado estado de coisas. Essa ocultação pode atingir um determinado tipo de sujeitos sociais ou políticos.

Como é compreensível, esta estratégia induz um efeito de invisibilidade daqueles que são o seu objeto ou as suas vítimas. É como se não existissem.

“Quem não aparece, esquece”.

Excluir: isto não pode ser pensado

Que a crise atual é uma crise do capitalismo, foi uma ideia que conseguiu ser expressa no princípio da crise. Parecia que o fato de se deixar formular assim o problema se devia a uma necessidade de partir de um mínimo de credibilidade, a uma vontade de assegurar uma disposição mínima para ouvir. Mas rapidamente os media procuraram que só o dissessem aqueles que apareciam como deputados e dirigentes políticos de uma esquerda anticapitalista e que assim eram desqualificados por três razões “óbvias” (?): 1) eram “políticos”, 2) tinham uma ideologia e 3) eram anticapitalistas. Sobretudo aconteceu que a partir daí, na fase em que se tratou de discutir as políticas para responder à crise e sai dela, os participantes foram ferozmente selecionados: passaram a ser necessariamente economistas conhecidíssimos ou perfeitamente desconhecidos, mas todos piamente crentes na mesma grande receita. Reparar-se-á que nem têm que combater ou contra-argumentar contra uma orientação marxista, porque isso já era perigosamente sugerir que uma outra orientação era possível e havia quem a argumentasse. Os media passaram a comportar-se como se uma alternativa fosse impensável, monstruosa ou portadora de um qualquer elemento misteriosamente patogénico. Podemos imaginar que se algum economista escapasse ao feroz controlo instalado uma das coisas que lhe poderia acontecer era passar por alguém fora de moda se não mesmo fora deste mundo, ou aparecer como alguém alucinado ou algo ridículo como uma visita de uma casa de gente fina que não sabe comportar-se à mesa ou na conversa de salão.

Em tais condições compreende-se se dissermos que não é preciso sequer que ninguém diga ou proponha como conclusão de um debate que o capitalismo naturalmente passará esta curva. Por que o que se visa com estes programas, em que a opinião não apresentada como tal, ou mesmo enganosamente apresentada como informação, é a inculcação de que o capitalismo é o estado natural das coisas.

Como se fosse o ar que respiramos: naturalizar a ideologia burguesa.

Tal como a ideologia burguesa é como o ar que respiramos. E porque o respiramos é que estamos vivos. QUOD ERAT DEMONSTRANDUM. A ideologia burguesa é aquela que rejeita ser uma ideologia, ser burguesa e ser de classe.

Uma nova cultura: a cultura mediática de massas

Hoje em dia, com o desenvolvimento das novas tecnologias de informação e de comunicação, com a concentração da propriedade dos media e a formação de grupos multimídia, os media contemporâneos tornaram-se uma plataforma em expansão, anexando atividades que, até à 2ª metade do século 20, apareciam como territórios culturais autônomos, dispondo nomeadamente de tradições próprias. Refiro-me ao conjunto das artes.

Poder-se-ia supor que essa anexação poderia ser descrita como o fornecimento às artes de um novo aparelho de distribuição, exibição e exposição dos seus artefatos. Veio contudo a acontecer quase inevitavelmente (uma vez que o referido processo se dá num campo dominado pela produção capitalista) que os media se tornaram agentes e fatores da produção artística.

Com isto, aquilo que parecia ser a lógica evolutiva interna das formas artísticas passa a ser subordinado à lógica mercantil, que domina a produção para o mercado, e à pressão do gosto das grandes audiências. Os dois principais modelos da produção e da recepção artísticas tornam-se assim o mercado e o espetáculo.

No mercado capitalista contemporâneo, as regras neste campo deixam de ser meramente econômicas para passarem a ser também ideológicas, e o espetáculo não é apenas o palco para as fantasmagorias da mercadoria, mas a instauração de uma distância que aliena a participação do espectador.
 
Fonte: O Vermelho

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A batalha no Rio

Do Blog do Esquerdopata
É um engano identificar a batalha do Rio – e de outras grandes cidades – como mero confronto entre a polícia e delinquentes, traficantes, ou não. Embora a conclusão possa chocar os bons sentimentos burgueses, e excitar a ira conservadora, é melhor entender os arrastões, a queima de veículos, os ataques a tiros contra alvos policiais, como atos de insurreição social. Durante a rebelião de São Paulo, o governador em exercício, Cláudio Lembo, considerado um político conservador, mais do que tocar na ferida, cravou-lhe o dedo, ao recomendar à elite branca que abrisse a bolsa e se desfizesse dos anéis.


O Brasil é dos países mais desiguais do mundo. Estamos cansados do diagnóstico estatístico, das análises acadêmicas e dos discursos demagógicos. Grande parcela das camadas dirigentes da sociedade não parece interessada em resolver o problema, ou seja, em trocar o egoísmo e o preconceito contra os pobres, pela prosperidade nacional, pela paz, em casa e nas ruas. Não conseguimos, até hoje (embora, do ponto de vista da lei, tenhamos avançado um pouco, nos últimos decênios) reconhecer a dignidade de todos os brasileiros, e promover a integração social dos marginalizados.

Os atuais estudiosos da Escola de Frankfurt propõem outra motivação para a revolução: o reconhecimento social. Enfim, trata-se da aceitação do direito de todos participarem da sociedade econômica e cultural de nosso tempo. O livro de Axel Honneth, atual dirigente daquele grupo (A luta pelo reconhecimento. Para uma gramática moral do conflito social) tem o mérito de se concentrar sobre o maior problema ético da sociedade contemporânea, o do reconhecimento de qualquer ser humano como cidadão.

A tese não é nova, mas atualíssima. Santo Tomás de Aquino foi radical, ao afirmar que, sem o mínimo de bens materiais, os homens estão dispensados do exercício da virtude. Quem já passou fome sabe que o mais terrível dessa situação é o sentimento de raiva, de impotência, da indignidade de não conseguir prover com seus braços o alimento do próprio corpo. Quem não come, não faz parte da comunidade da vida. E ainda “há outras fomes, e outros alimentos”, como dizia Drummond.

É o que ocorre com grande parte da população brasileira, sobretudo no Rio, em São Paulo, no Recife, em Salvador – enfim em todas as grandes metrópoles. Mesmo que comam, não se sentem integrados na sociedade nacional, falta-lhes “outro alimento”. Os ricos e os integrantes da alta classe média, que os humilham, a bordo de seus automóveis e mansões, são vistos como estrangeiros, senhores de um território ocupado. Quando bandos cometem os crimes que conhecemos (e são realmente crimes contra todos), dizem com as labaredas que tremulam como flâmulas: “Ouçam e vejam, nós existimos”.

As autoridades policiais atuam como forças de repressão, e não sabem atuar de outra forma, apesar do emplastro das UPPs.

Na Europa, conforme os analistas, cresce a sensação de que quem controla o Estado e a sociedade não são os políticos nem os partidos, escolhidos pelo voto, mas, sim, o mercado. Em nosso tempo, quem diz “mercado”, diz bancos, diz banqueiros, que dominam tudo, das universidades à grande parte da mídia, das indústrias aos bailes funk. E quando fraudam seus balanços e “quebram”, o povo paga: na Irlanda, além das demissões em massa, haverá a redução de 10% nas pensões e no salário mínimo – entre outras medidas – para salvar o sistema.

A diferença entre o que ocorre no Rio e em Paris e Londres é que, lá, o comando das manifestações é compartido entre os trabalhadores e setores da classe média, bem informados e instruídos. Aqui, os incêndios de automóveis e os ataques à polícia são realizados pelos marginalizados de tudo, até mesmo do respeito à vida. À própria vida e à vida dos outros.

Por Mauro Santayana
 
Fonte: Pragmatismo Político

10 estratégias de manipulação midiática

O lingüista estadunidense  Noam Chomsky elaborou a lista das “10 estratégias de manipulação” através da mídia:

1- A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO.


O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.

2- CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES.

Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

3- A ESTRATÉGIA DA GRADAÇÃO.

Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.

4- A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO.

Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

5- DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIANÇAS DE BAIXA IDADE.

A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê? “Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestão, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.

6- UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS DO QUE A REFLEXÃO.

Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos…

7- MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE.

Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossível para o alcance das classes inferiores (ver ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.

8- ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE NA MEDIOCRIDADE.

Promover ao público a achar que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto…

9- REFORÇAR A REVOLTA PELA AUTOCULPABILIDADE.

Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E, sem ação, não há revolução!

10- CONHECER MELHOR OS INDIVÍDUOS DO QUE ELES MESMOS SE CONHECEM.

No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.

Fonte: O Escrivinhador

FAVELAS INCENDIADAS: Onde há fumaça, há fogo

Por Débora Prado


No fim do dia, me deram logo 3 injeções e o médico perguntou como é que eu tava lá em pé. Mas, na hora do fogo a gente nem pensa nisso, né?”, dizia rindo um morador que perdeu suas doses de insulina no incêndio da favela Real Parque e quase teve uma crise de diabetes. Ele conta que também perdeu os eletrodomésticos recém comprados via crediário e só sobraram as dívidas. Os moradores das favelas têm um cotidiano estranho para as classes com mais renda em São Paulo. Não é só pelas condições precárias e a difícil luta pelo direito a uma moradia digna. Nem pela exclusão social, preconceito, presença da tropa de choque na vizinhança ou pelo descaso do poder público. É também pela convivência constante com incêndios, que estão fazendo desses moradores especialistas na contenção de fogo.

Segundo dados do Corpo de Bombeiros de São Paulo, a cidade registrou 113 incêndios em favelas desde o início do ano até a última semana de setembro e, enquanto esta reportagem era apurada, um novo incêndio deixou cerca de 1200 pessoas sem casa na Real Parque, na zona sul. No dia 24 de setembro, uma sexta-feira, depois de dois focos de incêndio controlados por moradores, um terceiro queimou centenas de barracos na comunidade, além de atingir dois alojamentos ‘provisórios’ em que dezenas de famílias viviam desde outro incêndio que aconteceu há 8 anos. “Foi muito estranho, o fogo lambeu tudo muito ligeiro, parecia uma boca engolindo os barracos”, relata um morador.

Uma moradora da favela Água Espraiada,zona sul, conta que o último incêndio “ainda não

venceu um mês” e deixou 83 famílias sem moradia. “A causa do incêndio mesmo nunca fica em evidência, né? As autoridades não vêm aqui fazer uma perícia direito. Os bombeiros demoram e ainda chegam aqui com o caminhão vazio, muitas vezes. A defesa civil vem, faz um cadastro, dá um colchão, uma cesta básica e depois não aparece mais. Quando a gente é pobre, filha, só pode contar com a gente mesmo, quem apaga o fogo e começa tudo de novo é a própria comunidade. Em todas as favelas é assim”, diz.

Um incêndio também atingiu um alojamento, em tese provisório, na comunidade Paraisópolis, também zona sul, em setembro. Marisa Feffermann, psicóloga engajada na campanha Paraisópolis Exige Respeito, conta que as famílias já estavam no alojamento há um ano, com o dobro de pessoas em relação à capacidade e sem infraestrutura, desde que outro incêndio atingiu a região.

Os casos de incêndio são recorrentes e tem aumentado tanto que geram suspeitas. Na Real Parque, muitos moradores desconfiam de incêndio criminoso. Segundo eles, o fogo se espalhou com uma velocidade surpreendente. “Teve barraco que queimou de fora pra dentro”, diz um morador. “A perícia não vai acontecer, a prefeitura já limpou o terreno e os técnicos que vieram aqui disseram que vai ser difícil apurar, porque o terreno não foi isolado”, reclama outra moradora.

A área mais atingida pelo fogo é antigo palco de embate entre a comunidade e o poder público. Uma parte do terreno que pertence a EMAE (Empresa Metropolitana de Águas e Energia S.A.) já tinha sido desocupada por uma ação de despejo em dezembro de 2007. “O fogo foi justamente numa área que a prefeitura queria nos tirar, que era uma briga na justiça pela desocupação de um terreno da EMAE”. Em nota, a Sehab confirmou que “a Prefeitura vem enfrentando dificuldades com as lideranças para retirar a população do local”, mas porque a região ‘é considerada de risco’.

A professora Ermínia Maricato, da Universidade de São Paulo (USP), explica que as favelas mais bem localizadas passam por um processo de adensamento muito grande e esse movimento, aliado às condições precárias – inclusive de instalações elétricas - gera um quadro de maior risco de incêndio. “A favela vai continuar aumentando enquanto o problema do direito à cidade e do transporte não for resolvido, principalmente as mais

bem localizadas. Este processo indica uma necessidade das pessoas estarem mais perto do trabalho, gastar menos com ônibus, estar mais perto de possíveis bicos”, explica a professora. Segundo Ermínia, esse quadro é fruto da ausência de uma política fundiária para diminuir o preço e a especulação com terra e viabilizar a moradia para população de baixa renda. “Numa sociedade como a nossa, se melhoraram as condições num determinado local, não tem jeito: aumenta o preço e aumentando o preço você expulsa o pobre”, afirma.

A moradora de Paraisópolis que conseguiu garantir seu direito à moradia depois de muita luta conta que os gastos subiram demais para o padrão de renda da população. “Depois de seis meses, a gente começa a pagar uma prestação de R$ 86 e tem várias contas, a água, luz, a iluminação pública – que aqui é a gente que tem que pagar, nunca vi isso. Só a conta de gás veio R$ 300,00 nos últimos 3 meses, pra quem ganha um salário mínimo (R$ 510,00) é totalmente inviável. Todo mundo quer pagar, mas nem todos tem condições, é muita falta de dignidade”, lamenta.

Pelo fogo, certamente, é que a favela não irá acabar. Isto porque os próprios moradores estão se habituando a conter as chamas, retirar seus pertences e botijões de gás, arrecadar e distribuir doações e reconstruir seus barracos. A moradora da Água Espraiada conta que, após o último incêndio, a prefeitura quis encaminhar algumas famílias para alojamentos em outras regiões da cidade, mas os moradores não aceitaram, já que lá vivem com a ameaça do despejo. “O pessoal não aceitou, né? Eles sabem que se saírem daqui perdem a posse, então eles arregaçaram as mangas e tão reconstruindo. As pessoas têm história, raízes, escola, emprego, vínculo aqui”, explica. Ela mesma diz que vive com esta preocupação desde 1962, quando o pai comprou a casa na Espraiada. “A gente tá sempre na corda bamba, pode ser locomovido a qualquer momento. Eles querem fazer da Espraiada uma nova (Avenida) Paulista, até a Copa de 2014 tiram a gente daqui”. O receio é fundamentado – a Operação Urbana Água Espraiada prevê a remoção das famílias das favelas próximas à avenida que passou a se chamar Jornalista Roberto Marinho.

A maior reclamação da moradora é em relação ao descaso. Segundo ela, faltam informações sobre o encaminhamento que será dado aos desabrigados. “Tem umas 15 famílias que receberam o auxílio aluguel para 6 meses, no total de R$ 3.600,00, mas não sabem o que acontecerá depois deste prazo. O pessoal não tem informação, não sabe do futuro, não sabe nem onde ir cobrar daqui esse tempo”.

A moradora de Paraisópolis retrata uma situação semelhante: os desabrigados receberão o aluguel social, mas ainda não sabem ao certo por quanto tempo e nem tem a garantia da nova moradia. “As pessoas não têm seus direitos garantidos, então são obrigadas a invadir de novo”, conta. “Eles tão prometendo entregar as habitações em 18 meses, mas eu mesma fiquei 4 anos esperando e tive que fazer muita pressão”. As famílias despejadas em 2008, por exemplo, ainda lutam pela sua moradia. “Teve caso de família que saiu pra trabalhar e quando voltou sua casa tinha sido derrubada com tudo dentro. Teve gente que entrou em depressão, eles viram tudo destruído por um trator, enquanto eram empurrados pela polícia”, relembra.

Nelson Saule, do Instituto Pólis, avalia que a questão da legalização dessas áreas para as comunidades é uma das principais reivindicações no horizonte. “O processo de legalização é fundamental, porque então as próprias famílias vão investir mais para melhorar a condição da habitação”, destaca.

Débora Prado é jornalista
debora.prado@carosamigos.com.br

Fonte: Caros Amigos

Lula diz que “mídia antiga” lutou para derrotá-lo

Pela primeira vez um presidente deu uma entrevista coletiva exclusiva para blogueiros. Mais do que isso, foi a primeira vez em que um presidente falou para um grupo de jornalistas que não eram funcionários de suas empresas mas, eles próprios, donos dosmeios em que atuam. Talvez por isso mesmo o tema da mídia, de sua postura nas eleições e de seu relacionamento com o poder tenha ocupado um espaço tãogrande na conversa de duas horas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva Lula com os chamados “blogueiros progressistas” (*) nesta quarta-feira, em Brasília.


Além de responder sobre a imprensa e seu papel, Lula falou sobre reforma política, aborto, direitos humanos e muito mais. Não faltaram as perguntas sobre o que pretende fazer depois de passar a faixa presidencial para Dilma Rousseff no primeiro dia de 2011. Internautas também fizeram perguntaram através do Twitter.

Veja algumas de suas respostas:

Censura – Não existe maior censura do que a ideia de que a mídia não pode ser criticada (…). Quando você acusa uma pessoa, você tem de ter provas. Se der errado, peça desculpas. No Brasil, parece que é feio pedir desculpas. Eu lembro da Escola Base de São Paulo, que é um marco.

Inverdades - Quando eu deixar a Presidência eu vou reler, porque eu parei de ler revista, parei de ler jornal. Pelo fato de não os ler, eu não fico nervoso. Eu vou reler muita coisa porque eu quero saber a quantidade de leviandades, de inverdades que foram ditas a meu respeito. Apenas para gravar na história. Porque não foi fácil.

Eleições - Aquele dia da bolinha de papel eu não ia dar entrevista(…) Mas aí quando vi a cena patética que estavam montando, eu disse ‘Ah, vou falar’. Foi uma desfaçatez. Eu perdi três eleições. Jamais faria aquilo. Eu fiquei decepcionado porque tentaram inventar uma outra história. Tentaram inventar um objeto invisível que até agora não mostraram. Aquilo era para culpar o PT pela violência(…)

Mídia antiga - Tenho problemas na relação com a mídia antiga. Sei que lutaram para me derrotar. Sou resultado da liberdade de imprensa nesse país. Temos telespectador, ouvinte, leitor. Eles acham que povo é massa de manobra. Eles se enganam. Tem que lidar com internet, algo que eles não sabem como lidar. Temos também que trabalhar para democratizar a mídia eletrônica. Sai pesquisa com 80% de aprovação e eles ficam assustados. O povo brasileiro conseguiu conquistar um espaço extraordinário. Não se deixa levar por um colunista que não tem interesse em divulgar os fatos. Antes eles (a mídia) não tinham que se explicar, agora, eles tem. (…) Quanto mais liberdade, melhor.

Liberdade de imprensa - Com todos os defeitos, eu sou o resultado da liberdade de imprensa deste país. Quem tem que julgá-los não sou eu, que vou ficar xingando. Eles (a mídia) pensam que o povo é massa de manobra como era no passado, eles se enganam. O povo está mais inteligente, mais sabido.

Direitos Humanos - Nós nos deixamos levar por setores que nos criticaram no relatório apresentado pela Comissão de Direitos Humanos, que não tinham lido o relatório (do Plano Nacional de Direitos Humanos) de 1996 e o de 2000. Os dois no governo Fernando Henrique Cardoso tratavam as coisas quase que do mesmo jeito. Um dia chamei o Paulinho Vanucchi (ministro da Secretaria de Direitos Humanos)e disse: os mesmos veículos que estão te triturando não falaram nada quando foi feito o primeiro e o segundo (relatórios).

Balanço - Estamos fazendo um balanço de tudo o que foi feito em todas as áreas do governo. Vamos registrar em cartório para que nenhum ministro me conte nenhuma mentira, seja de que fez ou de que não fez (…) Quero registrar em cartório para deixar no Arquivo Nacional, nas biblioteca das universidades, aquilo que foi a nossa passagem pelo governo.

Aborto - Enquanto cidadão, eu sou contra o aborto. Enquanto chefe de estado, eu tenho que tratar o aborto como questão de saúde pública. Tem milhões de pessoas fazendo aborto, meninas fazendo aborto pelo interior do País, colocando fuligem de fogão de lenha, furando o útero com agulha de crochê. O chefe de estado sabe que isso existe e não vai permitir que uma madame possa ir a Paris fazer um tratamento euma pobre tenha que morrer na rua.

Reforma política - É inconcebível este país atravessar mais um período sem fazer a reforma política. Não é papel de quem está na Presidência. É papel dos partidos e do Congresso. (…) Eu prefiro o financiamento público, que a gente sabe quanto vaicustar uma campanha. A companheira Dilma pode contar comigo. Eu vou estar muito mais livre para dizer coisas que eu não posso dizer com o papel institucional de Presidente da República.

Futuro - Pode ficar certo de que serei tuiteiro, blogueiro. Eu vou ser um monte de coisa que eu não fui até agora(…) Eu tenho vontade de trabalhar com as experiências bem sucedidas do Brasil. Tenho vontade de trabalhar na América Central. Ajudar Guatemala, El Salvador, Nicarágua. Quero ver se eu dedico um pouco do meu tempo a levar algumas experiências de políticas nossas para ver se a gente consegue implantar na África.

(*) A lista de convidados para a entrevista foi elaborada durante o 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, que aconteceu em São Paulo, em agosto, com a participação de blogueiros de 19 Estados.

Fonte: Brasília Confidencial

terça-feira, 23 de novembro de 2010

“Lugar Nenhum”


Publicado em 23/11/2010 por flamasorocaba

Este filme foi produzido numa oficina de audiovisual do VII CINE FEST de Votorantim, durante os dias 18, 19 e 20 de novembro de 2010. O grupo de pessoas que compôs a oficina achou importante a possibilidade de produzir um material que pudesse servir para a conscientização e para a reflexão crítica. Veja o resultado. Este curta-metragem foi exibido no dia 21 de novembro, na abertura do último dia do CINEFEST Votorantim. Passe a mensagem adiante. Informe-se sobre o tema. Discuta e critique este vídeo. E divulgue-o. Contribua para que este debate se amplie e se espalhe pela sociedade. É nela, e não só nos manicômicos, que as mudanças devem ocorrer para que haja mudança significativa de consciência..

O FLAMAS agradece a todos os membros que participaram da oficina, que deixaram as suas marcas neste trabalho fantástico que realizamos, nas condições que tínhamos. Agradecemos também a Secretaria de Cultura de Votorantim e a Prefeitura Municipal.

Fonte: FLAMAS